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segunda-feira, 5 de novembro de 2012



A morte por um segundo

Eu não tinha esperança de mais nada neste mundo. Tudo era ruim, tudo era cinza. O ódio me dominava, porque foi com o ódio que eu cresci. Foi o ódio que esteve sempre do meu lado. Não conseguia e até hoje não consigo entender porque tantos me odiavam. Eu nunca fiz nada, nasci sendo odiada. Nasci de uma violência, nasci, mas era como alguém morta. Era invisível só era visível ao ódio.

Dezessete anos de violência. Dezessete anos de invisibilidade. Dezessete anos de morte. Dezessete anos de solidão. Dezessete anos de ódio!

Aquela ponte parecia perfeita. Alta, mar abaixo, coberto por pedras pontudas. Em pé naquela parede de concreto, sentia os carros passarem por trás. Todos podiam me ver, mas não viam. Ninguém nunca me vê. Fechei os olhos e senti o mar. Ouvi o som da água nas rochas. As rochas que iriam me receber. Receber quem não faria falta.

Talvez perguntassem por mim. Não no dia seguinte, quem sabe uma semana depois. Iriam dar falta da loira esquisita. Iriam sentir falta dela, de mim. Iriam sentir falta de jogar chiclete no meu cabelo, de me chamar de estranha. Iriam sentir minha falta. Mas só isso.

Mas uma vez olhei aquelas rochas. Olhei bem. E pulei.

Senti quando cai. Droga, senti dor. Muita dor! Achava que ia morrer em milésimos de segundos. Mas não, aquilo já era quase um minuto. Realmente eu atingi a pedra. Eu não conseguia sair debaixo da água. Eu queria nadar, mas minha perna doía muito. Eu senti água no meu cérebro, no meu nariz, no meu pulmão... Eu estava morrendo. Tinha muita dor, e eu vi sangue. Eu estava morrendo realmente. Não! Eu não queria. A morte dói. Eu não queria mais morrer. Meus olhos fecharam devagar, eu queria abrir, mas não conseguia.

Abri os olhos novamente. Não era ali que eu estava antes. Não me lembrava ao certo. Mas tinha certeza que não era naquela sala branca. Olhei para o lado. Vi alguns fios, tubos brancos, líquidos, seringas, soros... Eu estou viva? Sim, eu estava viva. E estava feliz por estar viva. Eu não queria mais morrer. Eu queria viver. Do meu jeito. Longe de tudo aquilo. Longe do ódio. Longe da ponte.
Vi um homem de branco e mascara entrar na sala, seguido por uma moça, também de branco. Eles me aplicaram algo que em segundos me deu muito sono. Só ouvi uma coisa antes de dormir.

- Ela teve sorte de não atingir nenhuma pedra.


A morte por um segundo de Letícia Pontes


2 comentários:

Unknown disse...

Uaaaau !!! Veeey, veeeey nossa ficou demaais ! Ameei kkk amo esses textos, tristes ! :O Amei amei ameeei

Letícia Pontes disse...

*---------* , ai que bom, kkk. Também amo esse tipo de texto. Não sei de onde tirei essa idéia, kkk.
Eu só não gosto porque tem gente, que pensa que aconteceu comigo. As pessoas não tem senso, sei lá...Nada das coisas que posto aconteceram comigo a não ser que eu diga: ACONTECEU COMIGO!

Enfim, também amei esse texto!